07 janeiro 2018

Amorim e a diplomacia do gigante que insiste em ser miúdo

Um dos traços de quem pensa e deseja um Brasil pequeno é relegar à insignificância o papel que um país, gigante, o 5° mais extenso do mundo e uma de suas maiores economias, deve, todo o tempo, buscar no mundo.

Os idiotas costumam se fixar em mitos, como o de que isso representaria um tal “bolivarianismo”  e que, ao contrário, seríamos premiados por “bom comportamento” pelo capital internacional o quanto mais nos alinhássemos às suas políticas e ‘regras’ de mercado.
A entrevista do ex-ministro Celso Amorim, hoje, no UOL, é uma lição contra o pensamento miúdo que sempre dominou a relação do Brasil com o mundo, salvo durante breves períodos.
Tem muita gente que não está preocupada. Tem muita gente que quer só ganhar dinheiro. E se esse regime facilita investimentos e permite aquisições, como a da Embraer pela Boeing, eles estão pouco ligando. Agora, o que não tem, no no país como está hoje, é credibilidade. O Brasil não pode propor nada. Essa é uma opinião geral mesmo de quem não estava de acordo com a nossa política externa. É inegável que o Brasil tinha protagonismo. O Brasil criou a União Sul-americana de Nações (Unasul), modificou o padrão de negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), o [George W.] Bush [ex-presidente dos EUA] ligava imediatamente para o Lula para propor a criação do G-20, criamos os Brics [comunidade formada pelo grupo de emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Nada disso hoje em dia existe. Estamos totalmente sem liderança.
Amorim, ao contrário de chanceles com modos, digamos, quase equinos, ao se manifestarem, ressalta que a postura da diplomacia brasileira é a de ganhar espaço promovendo a concórdia, não o conflito, uma tradição que não é “ideológica”, que vem desde o comportamento do Governo Geisel no processo de descolonização da África:
Sempre procuramos atrair, mesmo quando não concordávamos com opiniões. Quando a Colômbia atuou no Equador atrás das Farc sem pedir licença, havia sugestões mais radicais, mas o Brasil não achou interessante isolar a Colômbia. Preferimos o diálogo. A voz internacional do Brasil hoje em dia é pouco mais que uma coisa esganiçada, não dá para ouvir.
A força que o Brasil ganhou, anos atrás, foi conquista por este caminho, não o do alinhamento automático, este sim a “ideologização” das relações internacionais. O inverso do “soft power” que nos fez ter protagonismo na década passada.
Um dos organizadores do manifesto “Eleição sem Lula é fraude”, que colheu até agora mais de 130 mil assinaturas, Celso Amorim diz que um país dirigido sem a legitimidade do voto popular mão é e não pode ser um protagonista no mundo:
(…)o Brasil vive um momento difícil. O ano vai ser decisivo, temos várias armadilhas jurídicas, há ameaças com a extrema-direita crescendo nas artes, na cultura, nas universidades, nessas conduções coercitivas, que tornam, digamos assim, o fascismo batendo à porta. E isso tem sido tratado com quase uma normalidade. Se o Lula ou alguém progressista vai ganhar ou não as eleições, eu não sei. De qualquer maneira, é importante que o povo tenha a oportunidade de escolher quem for de sua preferência.
A entrevista do ex-ministro está aqui, na íntegra. Leia, é um exercício de inteligência que anda raro em nosso país.

Da redação com, DCM


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