14 abril 2017

A arte do saber envelhecer saboreando a vida

É prudente envelhecer, assim, vagarosamente, saboreando a vida. A fórmula inclui generosas e constantes doses.

A fórmula inclui generosas e constantes doses de paciência, perseverança, alguns tropeços, prováveis obstáculos, incontáveis alegrias, muita leveza, energia, autoestima, amor próprio, humildade e ainda mais e mais paciência.

Navegar tranquilo para transformar o peso dos anos em experiências significativas para continuar cumprindo a missão que cabe a cada um nessa embarcação. Penosa para alguns, brilhante para outros, e suave, muito suave para outros tantos seres flutuantes com quem temos o privilégio de cruzar, vez ou outra, neste espaço a ser preenchido entre o acordar e o dormir, o nascer e o morrer.
Impossível prever até quando seguiremos firmes, fortes, lúcidos, produtivos, como duas celebridades que iluminaram o meu caminho, e o de milhares de pessoas, na última terça-feira, no anfiteatro Beira Rio, em Porto Alegre. James Taylor e Sir Elton John, dois ilustres setentões flutuando no palco, como há 50 anos, naturalmente, fazendo com maestria o que mais amam: música, música e música. E das melhores já produzidas, seguramente, nas últimas décadas, no último século e até, quem sabe, nos anteriores.


A mesma energia, a mesma alegria, o mesmo entusiasmo, o mesmo olhar, o mesmo sorriso, a mesma voz para entoar as mesmas canções com a mesma vitalidade do início da carreira. É para poucos ser contemplado com tantas bênçãos para seguir cantando e encantando multidões de senhores e senhoras da mesma idade, aplaudindo-os com a mesma emoção com que ouviam seus vinis na adolescência, só que agora com telefones celulares nas mãos que registram tudo.


E assim, pacientemente, a cada canção um suspiro, uma lágrima, um grito, uma palavra, um beijo, uma frase, um acorde, uma estrofe, uma foto, um vídeo que reproduz a jovialidade de cada um, em qualquer idade, sem saudosismo, apenas boas e eternas lembranças.
Paciência para ouvir, para acompanhar a letra da música, reavivar a memória, reencontrar amigos, ressignificar a vida, passo a passo, sem hora para ir embora, implorando pelo bis.


No palco, a performance dos ídolos rejuvenesce a alma, espanta temores, brilha no casaco azul de paetês, nos olhos azuis do cantor que fala a nossa língua, seja o idioma que for. Na plateia, senhores e senhoras, jovens e adultos, aguardam calmamente cada momento, cada segundo do que logo mais será história, enquanto apenas um reduzidíssimo grupo, meia dúzia, talvez, ansiasse pelo fim do espetáculo para postar o vídeo do show que não teve paciência de assistir na íntegra, ao vivo.


Desta vez, foram os setentões que nos deram um cansaço e nos revelaram a eterna fonte da juventude, com fôlego para muito mais.

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